10 de Novembro de 2008

A derrota de John McCain na presidenciais de terça-feira não pode senão levar o Partido Republicano a iniciar uma profunda reflexão sobre o seu futuro. McCain poderia ter feito uma campanha melhor, poderia ter construído uma “narrativa” mais coerente. Mas, por muito que se possa criticar a campanha, não deixa de ser verdade que nenhum outro republicano poderia ter obtido um resultado tão respeitável.

Obama obteve uma vitória expressiva. O seu talento e capacidade de inspirar foram determinantes. Mas também beneficiou da conjuntura. McCain sucumbiu perante a força do desejo da mudança, de qualquer mudança, que alastrou pelo país. A crise financeira que irrompeu nas últimas semanas da campanha tornou a vitória de McCain impossível. A mensagem de Obama quanto à necessidade de alterar o status quo parecia confirmada pela gestão caótica feita pela Casa Branca da crise. Por muito que se esforçasse, McCain não conseguia colocar distancia política suficiente entre si e George Bush. Perante a impopularidade da “marca” republicana, e do presidente, McCain obteve o resultado possível.

Que futuro para o Partido Republicano? A coligação construída por George Bush desfez-se. As tensões entre neoconservadores, libertários, “fiscal conservatives” e a direita social cristã transformaram o partido numa entidade incoerente, incapaz de se apresentar ao eleitorado com um projecto dinâmico e consistente. Estas sensibilidades irão, a partir de agora, iniciar um combate pela alma do partido. Será uma luta prolongada que irá dar origem a velhas recriminações e a novas divisões. Neste quadro, Sarah Palin não pode ser ignorada. Depois de ser imolada pela imprensa, transformou-se numa heroína partidária. Gerou apoios importantes e, portanto, parte em vantagem para 2012. Resta saber se a ala centrista do partido, que consegue fazer a abertura aos independentes que decidem as eleições, consegue mobilizar à volta de Rudy Giulliani, de Tom Ridge ou de outra figura moderada. Caso contrário – isto é, se a direita mais conservadora que se revê em Palin conseguir dominar o partido –, a travessia do deserto republicana promete prolongar-se até, pelo menos, 2016.

 

Vasco Rato