21 de Fevereiro de 2008
As primárias nos EUA
A seis meses da convenção
do Partido Democrata, a campanha de Hillary Clinton implodiu. Agora,
tudo se reduz aos resultados do voto no Texas e no Ohio. Se perder
num destes dois Estados, a campanha invariavelmente chegará ao
seu fim. Clinton não necessita de vencer; necessita de uma
vitória expressiva. Porque os delegados à convenção
são atribuídos de acordo com critérios de representação
proporcional, um resultado que não seja esmagador significa
que Barak Obama conquistará uma fatia significativa dos delegados,
e, por conseguinte, a nomeação.
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Resultados em 14-03-2008 às 19h30 | [ x Desistiram ] | |||||||||||||||||||||||||
John MacCain atingiu já o número de delegados necessários para garantir a sua nomeação enquanto candidato do seu partido, e é o presumível candidato, aguardando nomeação da Convenção do Partido Republicano |
Como se chegou a este estado de coisas? A campanha de Hillary Clinton ficou, desde o início, marcada por hubris. A senadora definiu-se como a “candidata inevitável”. A nomeação era-lhe, simplesmente, devida. Por isso, não entendeu a ameaça de Barak Obama. Não entendeu que o desejo de mudança por ele encarnado era, também, um desejo de ultrapassar o clintonismo. Não entendeu o espírito dos tempos.
Se é verdade que Obama se transformou no rosto da esperança, é igualmente verdade que as suas propostas políticas são vagas e as suas prioridades imprecisas. A vulnerabilidade da sua candidatura reside, pois, nesta indefinição programática. Mais interessante, o seu discurso centra-se em questões de política interna. Porém, a tarefa principal de um presidente é a condução da política externa.
Sobre o papel dos EUA no mundo, Obama pouco diz. Afirma a necessidade de efectuar uma retirada célere do Iraque, mas não adianta como pretende concretizar esse objectivo. No entanto, há uma questão de política externa que Obama reitera com clareza: a determinação de prosseguir a guerra contra o terrorismo. Declara estar disposto a usar tropas americanas para capturar Osama bin Laden se souber que o líder da al Qaeda se encontra escondido em solo paquistanês. Muito simplesmente, violará a soberania do Paquistão, ignorando as repercussões e a instabilidade resultantes de tal imprudência. Nem parece estar ciente das consequências que tal acto provocaria no Afeganistão, onde a coesão da NATO corre graves riscos em resultado do fracasso das operações militares. Ironicamente, com as suas declarações, Obama sinaliza que o unilateralismo americano não chegará ao seu fim com a saída de George Bush da Casa Branca. Eis um dado que os “apoiantes europeus” de Obama deveriam ponderar antes de afirmarem que a sua eventual eleição irá “mudar tudo na política internacional”.por: Prof. Dr. Vasco Rato